Faltam quatro meses e uma semana para a COP28 e as 20 maiores economias do mundo ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre a participação de combustíveis fósseis na matriz ou o papel de cada uma delas na transição justa.
Neste sábado (22/7), os ministros de Energia do G20 – países que juntos representam mais de três quartos das emissões globais de carbono e do PIB mundial – encerraram o encontro em Goa, na Índia, com um comunicado dando indícios de quão difícil será chegar à cúpula climática da ONU, em novembro, com um acordo forte o suficiente para cortar emissões e limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o final do século.
A expectativa era que o encontro agora em julho estabelecesse algumas bases para a COP28 sediada em Dubai, nos Emirados Árabes, e presidida por um CEO do petróleo.
Por enquanto, os pontos de convergência continuam os mesmos: segurança energética, acesso a energia, estabilidade do mercado precisam ser “promovidos simultaneamente” à transição.
Enquanto isso, o mundo já aqueceu 1,2°C acima da média pré-industrial e as emissões de gases de efeito estufa seguem aumentando, junto com o consumo de combustíveis fósseis, mas o acesso universal a energia está praticamente estagnado, com 675 milhões de pessoas sem eletricidade e 2,3 bilhões dependendo de carvão e lenha para cozinhar.
Logo no começo da declaração, os ministros destacam que deve-se buscar crescimento econômico e garantia do acesso à energia moderna para todos, “sem deixar ninguém para trás”.
“Também reconhecemos a necessidade urgente de avançar nas transições energéticas, por meio de vários caminhos (…) fortalecendo a implementação plena e efetiva do Acordo de Paris e sua meta de temperatura, refletindo a equidade e o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades, à luz das diferentes circunstâncias nacionais”, diz.
Em jogo está a disputa por matérias-primas críticas, descentralização da cadeia produtiva de tecnologias de descarbonização, a liberdade para decidir quais estratégias fazem mais sentido em diferentes economias e, principalmente, quem financia.
Divergentes
A lacuna de investimentos para transição energética em países emergentes chega a R$ 2 trilhões.
No documento publicado pelo G20, os ministros de energia “apelam” ao aumento dos investimentos públicos e privados, com destaque para o papel das instituições financeiras internacionais de bancos multilaterais de desenvolvimentos no apoio aos países em desenvolvimento “quando considerado apropriado”.
Mas a questão dos US$ 100 bilhões (prometidos e não cumpridos) em financiamento das nações ricas para as pobres ficou na seção de “resumo da presidência”, sem a concordância de todo o grupo. Veja a íntegra da declaração, em inglês (.pdf)
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Há consenso sobre precisar reduzir as emissões do setor de energia. A divergência está em “como fazer”.
A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) diz que governos de todo o mundo devem se comprometer a triplicar a capacidade renovável até 2030, antes da COP28, e dobrar o progresso em eficiência energética.
“Dentro do portfólio de tecnologias [disponíveis], a alavanca mais importante para conseguir a redução das emissões de CO2 necessária até 2030 é triplicar a capacidade global instalada de energia renovável”, defende a IEA em uma análise publicada na sexta (21/7).
“Este tem sido um elemento chave e recorrente em nossos dados e modelagem desde maio de 2021. A expansão da capacidade renovável nessa escala evitaria cerca de 7 bilhões de toneladas de emissões de CO2 entre 2023 e 2030. Isso seria comparável à eliminação de todas as emissões atuais de CO2 do setor de energia da China”, completa.
Para parte dos produtores de combustíveis fósseis – Arábia Saudita, Rússia, China, África do Sul e Indonésia –, no entanto, destruir a demanda de petróleo e gás não parece o melhor caminho. Reuters/G1
Em coletiva de imprensa após o término da conferência, o ministro de Energia da Índia, Raj Kumar Singh, disse que alguns países queriam usar a captura de carbono em vez de reduzir gradualmente os combustíveis fósseis – mas não especificou quais.
Singh também afirmou que a participação da capacidade renovável instalada na Índia pode aumentar para 65-68% até 2030, já que a meta de chegar a 40% foi alcançada com nove anos de antecedência. Argus
- Vale dizer: mesmo países ricos como Estados Unidos, Noruega, Canadá e Austrália continuam aumentando a produção e as exportações de petróleo, gás e carvão, enquanto despejam subsídios no setor, mostra um levantamento da plataforma Climate Action Tracker
Escrito por Nayara Machado em 24 de Julho de 2023
Fonte da matéria: https://epbr.com.br/divergencias-no-g20-deixam-decisoes-climaticas-dificeis-para-cop28/?utm_source=newsletters+epbr&utm_campaign=ce9171f418-epbr-dialogos-da-transicao&utm_medium=email&utm_term=0_-ce9171f418-%5BLIST_EMAIL_ID%5D